H\u00e1 vida inteligente dentro da barriga. Cada vez mais os estudiosos confirmam o que a gente sempre soube: os beb\u00eas s\u00e3o capazes de aprender ainda no \u00fatero.<\/p>\n
O que os cientistas chamam de intelig\u00eancia depende das sinapses, liga\u00e7\u00f5es que se estabelecem entre os neur\u00f4nios, as c\u00e9lulas do c\u00e9rebro. Quanto mais est\u00edmulos, mais sinapses e maior a capacidade de aprendizado.<\/p>\n
Para que as tais sinapses se formem, \u00e9 preciso que o beb\u00ea \u2013 e, agora confirma-se, o feto \u2013 seja exposto a est\u00edmulos externos. “Como est\u00edmulos do ambiente n\u00e3o acontecem apenas ap\u00f3s o nascimento, podemos supor que haja forma\u00e7\u00e3o de sinapses j\u00e1 dentro da barriga”, diz o neurologista Luiz Celso Vilanova, chefe do setor de Neurologia Infantil da Unifesp.<\/p>\n
A ideia de que o feto faz mais dentro da barriga do que apenas crescer e tomar forma, \u00e9 mais velha que andar pra frente. Os eg\u00edpcios j\u00e1 pensavam na vida intrauterina, fil\u00f3sofos da antiguidade falavam em intelig\u00eancia fetal e \u00e9 de Leonardo Da Vinci a frase “a mesma alma governa dois corpos”, sugerindo que o que a m\u00e3e faz e sente influencia na forma\u00e7\u00e3o do beb\u00ea.<\/p>\n
Pesquisas sobre psiquismo fetal demonstram que as habilidades apresentadas pelos rec\u00e9m-nascidos come\u00e7am a se desenvolver muito antes de nascerem.<\/p>\n
At\u00e9 a d\u00e9cada de 1980, o \u00fatero era visto como uma caixa-forte, que isolava o feto do mundo. Acreditava-se que a sequ\u00eancia e o ritmo do desenvolvimento eram determinados apenas por componentes biol\u00f3gicos e gen\u00e9ticos e o ambiente pouco interferia.<\/p>\n
Tudo isso caiu por terra com a evolu\u00e7\u00e3o da ci\u00eancia e coisas que agora nos parecem banais, como o ultrassom: j\u00e1 est\u00e1 comprovado que a partir da 20\u00aa semana de gesta\u00e7\u00e3o o beb\u00ea reage a est\u00edmulos auditivos. Traduzindo: \u00e9 capaz de escutar e consegue reconhecer a voz da pr\u00f3pria m\u00e3e entre as de outras mulheres. E essa capacidade n\u00e3o \u00e9 biol\u00f3gica, n\u00e3o est\u00e1 inscrita nos genes. Ou seja, \u00e9 aprendida.<\/p>\n
Dizem at\u00e9 que \u00e9 bom expor o beb\u00ea a sons de diversos idiomas, al\u00e9m da l\u00edngua materna. Se nunca teve contato com franc\u00eas, ingl\u00eas, espanhol, vai-se perdendo a capacidade de distinguir os sons dessas l\u00ednguas. Mas n\u00e3o vai pirar, hein? N\u00e3o vale entrar na neura de ensinar mandarim para embri\u00e3o.<\/strong><\/em><\/p>\n Sem entrar na loucura de criar g\u00eanios, sempre \u00e9 curioso acompanhar os estudos cient\u00edficos. Experi\u00eancia numa maternidade inglesa revelou que fetos de 5 meses acalmavam-se ao executar Vivaldi e Mozart e ficavam agitados com Beethoven, Brahms e rock.<\/p>\n A prova de que gosto se adquire \u00e9 que a esposa de um roqueiro tentou colocar m\u00fasicas cl\u00e1ssicas logo depois que o beb\u00ea nasceu, mas sua garotinha s\u00f3 dormia com as m\u00fasicas do pai, que ela ouviu durante toda a sua vida intrauterina. Ou seja: nem todo feto curte os cl\u00e1ssicos.<\/p>\n O desenvolvimento sensorial segue uma sequ\u00eancia: primeiro o tato, depois o olfato e o paladar, em seguida o equil\u00edbrio, a audi\u00e7\u00e3o e finalmente a vis\u00e3o. A audi\u00e7\u00e3o \u00e9 um dos sentidos mais estimulados. Embora os beb\u00eas prefiram a voz feminina, a de homens pr\u00f3ximos tamb\u00e9m \u00e9 reconhecida. Um pai cantava o hino do time durante a gravidez da mulher. Depois do nascimento, era s\u00f3 cantar “Salve o Corinthians\u2026” que a crian\u00e7a se acalmava.<\/p>\n Outra evid\u00eancia de que o beb\u00ea guarda mem\u00f3rias de antes de seu nascimento est\u00e1 no reconhecimento do leite materno. Uma das hip\u00f3teses \u00e9 que ele tenha uma mem\u00f3ria do odor ou que exista alguma semelhan\u00e7a entre o sabor do leite e o do l\u00edquido amni\u00f3tico.<\/p>\n Pode parecer esquisito hoje, mas, h\u00e1 algumas d\u00e9cadas, os est\u00edmulos eram vistos at\u00e9 como nocivos. Os beb\u00eas prematuros eram deixados num quarto escuro, sem barulho, embrulhados como um charuto. Ao chegar ao sistema de ensino, essas crian\u00e7as tinham dificuldades de aprendizado, claro.<\/p>\n A explica\u00e7\u00e3o era muito simples: tudo culpa de ter nascido antes do tempo, \u00f3bvio. S\u00f3 que, na \u00e9poca, cerca de 30 anos atr\u00e1s, os prematuros tinham 1,5 kg. Hoje, beb\u00eas que nascem com muito menos, at\u00e9 600g, se d\u00e3o muito melhor na escola depois, resultado de muita estimula\u00e7\u00e3o precoce e contato com os pais j\u00e1 na UTI neonatal.<\/p>\n “Quando comparamos o comportamento dos beb\u00eas brasileiros ao dos beb\u00eas americanos, vemos que as crian\u00e7as de l\u00e1 s\u00e3o mais desenvolvidas aos 3, 4 ou 5 meses. Eu acredito que a estimula\u00e7\u00e3o recebida dentro do \u00fatero tamb\u00e9m fa\u00e7a diferen\u00e7a”, diz Vilanova. De novo, a dica \u00e9 n\u00e3o achar que tem que comprar livros, fitas e DVDs sobre estimula\u00e7\u00e3o fetal. Conversar com beb\u00ea j\u00e1 \u00e9 um est\u00edmulo e tanto.<\/p>\n Pelo \u00fatero, tamb\u00e9m chegam ao feto todas as emo\u00e7\u00f5es e sentimentos da m\u00e3e. Sim, ainda em forma\u00e7\u00e3o ele percebe se voc\u00ea est\u00e1 nervosa, agitada, feliz e tem seu desenvolvimento afetado. E naqueles nove meses nos quais ele vira gente, a \u00fanica pessoa que tamb\u00e9m faz parte do seu mundo concreto \u00e9 a m\u00e3e.<\/strong><\/em><\/p><\/blockquote>\n Apesar dessa coisa toda parecer um pouco m\u00edstica, h\u00e1 uma explica\u00e7\u00e3o palp\u00e1vel: os sentimentos provocam rea\u00e7\u00f5es concretas no organismo da m\u00e3e, como altera\u00e7\u00f5es da respira\u00e7\u00e3o e dos batimentos card\u00edacos.<\/p>\n Com essas informa\u00e7\u00f5es \u00e9 poss\u00edvel imaginar que o beb\u00ea se sinta mais ou menos confort\u00e1vel quando a m\u00e3e passa por momentos agrad\u00e1veis ou desagrad\u00e1veis.<\/p>\n Claro que \u00e9 imposs\u00edvel evitar o stress , a raiva e a tristeza durante longos nove meses. O importante \u00e9 ser franca com o filho desde j\u00e1. “Toda gesta\u00e7\u00e3o \u00e9 permeada pela ambival\u00eancia e \u00e9 um grande engano pensar que o beb\u00ea n\u00e3o percebe. Ele est\u00e1 dentro da m\u00e3e e, mesmo que ela finja que est\u00e1 tudo bem, ele sabe que n\u00e3o \u00e9 assim. Logo, temos que falar a verdade, expressar nossos sentimentos. A conten\u00e7\u00e3o \u00e9 que faz mal”, diz a psicoterapeuta especializada em trabalhos com gestantes, beb\u00eas e pais Eliana Pomm\u00e9. O beb\u00ea j\u00e1 sabe tudo. E o que ele ainda n\u00e3o sabe, voc\u00ea pode ajud\u00e1-lo a aprender, sendo a melhor m\u00e3e que puder ser. 3 semanas:<\/strong> seu beb\u00ea \u00e9 ainda um pequeno pontinho, do tamanho de uma cabe\u00e7a de alfinete e est\u00e1 em plena divis\u00e3o celular.<\/p><\/blockquote>\n 6 semanas:<\/strong> o cora\u00e7\u00e3o est\u00e1 batendo. O tubo neural, que se transformar\u00e1 no c\u00e9rebro e na coluna, est\u00e1 formado. Ele j\u00e1 tem sensibilidade na sua “pele”.<\/p><\/blockquote>\n 10 semanas:<\/strong> j\u00e1 possui todos os \u00f3rg\u00e3os. S\u00e3o criados 250 mil neur\u00f4nios por minuto. O feto tem 3 cent\u00edmetros. S\u00e3o notadas as sensa\u00e7\u00f5es de frio e calor.<\/p><\/blockquote>\n 12 semanas:<\/strong> apresenta movimentos semelhantes \u00e0 respira\u00e7\u00e3o. Especialistas concordam que at\u00e9 a semana seguinte ele n\u00e3o \u00e9 capaz de sentir dor.<\/p><\/blockquote>\n 14 semanas:<\/strong> o feto responde a est\u00edmulos e, em 15 dias, ser\u00e1 capaz de mexer os olhos. Tem 9 cent\u00edmetros e 48 gramas.<\/p><\/blockquote>\n 20 semanas<\/strong>: ele come\u00e7a a ouvir sons. As p\u00e1lpebras est\u00e3o formadas, mas os olhos ainda permanecem fechados. J\u00e1 existe a rea\u00e7\u00e3o a gostos diferentes.<\/p><\/blockquote>\n 22 semanas:<\/strong> o c\u00f3rtex cerebral est\u00e1 formado. Na semana seguinte, movimentos oculares indicam sonho.<\/p><\/blockquote>\n 26 semanas:<\/strong> o beb\u00ea pisca quando um foco de luz \u00e9 colado \u00e0 barriga da m\u00e3e. Pode sobreviver ao parto prematuro.<\/p><\/blockquote>\n 30 semanas:<\/strong> com quase 7 meses, o feto est\u00e1 maduro. Abre e fecha os olhos, chupa o dedo, chora e se mexe muito.<\/p><\/blockquote>\n 34 semanas:<\/strong> pulm\u00f5es est\u00e3o desenvolvidos e 8% do peso \u00e9 gordura. O \u00fatero \u00e9 pequeno para o beb\u00ea, que quase n\u00e3o se mexe.<\/p><\/blockquote>\n 40 semanas:<\/strong> final da gesta\u00e7\u00e3o. Nessa fase, ele ganha at\u00e9 30 gramas por dia e j\u00e1 est\u00e1 preparado para o nascimento, levando na bagagem tudo o que viveu dentro do \u00fatero.<\/p><\/blockquote>\n
\nComo o beb\u00ea se desenvolve<\/strong><\/p>\n